APLICABILIDADE TEÓRICO-PRÁTICA DA TCC NOS PROCESSOS EDUCATIVOS

AUTOR: SÉRGIO CAETANO DA SILVA JUNIOR

RESUMO

    Considerada como “a primeira onda”, a expansão do behaviorismo radical tornou inegável sua influência na área da educação nas últimas décadas. O fato de seu grande propulsor, Burrhus Frederic Skinner, ter a temática “educação” frequentemente em sua obra aumentou ainda mais a aplicação de se suas propostas às práticas educacionais. O mesmo não aconteceu com as abordagens de “segunda onda” (Psicologia Cognitiva e Cognitiva-comportamental) que, em grande parte, têm suas propostas/atuações no contexto da psicologia clínica, saúde mental e psiquiatria. Uma vez que, em seus estudos científicos, Aaron Beck (um dos principais expoentes da Terapia Cognitivo-Comportamental) comprovou os resultados da TCC e sua eficácia para diversas psicopatologias (muitas das quais interferem e/ou estão ligadas diretamente ao processo de ensino-aprendizagem). Este estudo pretende revisar a literatura fundamental e atual proposta pela TCC em busca de possíveis contribuições às práticas educacionais e desenvolvimento humano. Uma vez que a TCC pode ser (e se propõe a ser) experimentada nos mais diversos âmbitos do conhecimento humano, este estudo inclui a TCC, seus métodos/tecnologias e investiga uma possível utilização destas à fim de experimentar também nos processos educacionais, o sucesso que a mesma tem obtido em contexto clínico.

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia; Educação; Terapia Cognitivo-comportamental.

1 INTRODUÇÃO 

A psicologia é uma ciência com diversas filosofias e aplicações denominadas “abordagens”. Dentre as abordagens empíricas, entre as consolidadas estão as de fundo/origem comportamental que, em sua linha de atuação, se preocupam em verificar através de estudos científicos e pesquisas numerosas a sua efetividade. É comum na literatura, a história da psicologia comportamental ser considerada em três gerações: O behaviorismo como sendo a primeira geração ou primeira onda, a Terapia Cognitivo-comportamental como segunda geração e as autodominadas terapias de terceira onda surgidas por volta do ano 2000.

A aplicação clínica da psicologia comportamental começou nos anos 1950 mas apresentou-se como um movimento visível e emergente no princípio dos anos 60 nos Estados Unidos. É composta por diversos conceitos teóricos, estratégias e técnicas, tendo seu início sustentado por muitos trabalhos como, por exemplo, os de Pavlov sobre o condicionamento clássico, os de Watson sobre o comportamentalismo, os trabalhos de Thorndike sobre a aprendizagem e, obviamente, os de Skinner sobre o condicionamento operante (CABALLO, 1996). Nessa época, considerada a “primeira onda”, a preocupação dos clínicos era com o condicionamento clássico e a aprendizagem operante, através de alterações no ambiente das pessoas, buscando, através disso, levar a uma mudança nos comportamentos. A Terapia Comportamental tem se mostrado cada vez mais expressiva e auxilia o indivíduo a modificar a relação entre a situação que está criando dificuldade (estímulo) e a habitual reação emocional e comportamental (resposta) que ele tem naquela circunstância, mediante a aprendizagem de uma nova modalidade de reação.

Considerado o grande propulsor desta abordagem, Skinner sempre circundou em suas publicações a temática da educação. Além de frequentemente em sua obra o autor trazer a educação em pauta, em seu o livro “Tecnologia do Ensino” (SNINNER, 1975), o mesmo se dedica exclusivamente a fazer considerações sobre a Análise do Comportamento aplicada ao ensino. Sobre sua contribuição, “o papel atribuído ao condicionamento, mormente sob a influência de Skinner, levou ao ideal de um ensino programado, por meio de associações progressivas mecanicamente ordenadas (as “máquinas de ensinar”) ” (PIAGET, 1975, p. 11).

A segunda geração ou segunda onda ganhou expressividade com os estudos de Aaron Beck, que ao estudar Skinner, percebeu algumas lacunas na teoria que, em sua prática clínica, não atendiam alguns pacientes (em especial os casos de depressão), Beck atentou para a terapia racional-emotiva de Ellis (também oriunda dos fundamentos skinnerianos) e deu os contornos atuais que hoje encontramos. Uma vez que os primeiros terapeutas comportamentais apresentavam dificuldade em adequar sua forma de trabalho para lidar com pensamentos e sentimentos, Aaron Beck iniciou a proposta de um modelo de terapia que focava justamente nas crenças e percepções que o indivíduo tem sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre o futuro. Assim, a terapia Cognitiva baseia-se no pressuposto teórico de que os sentimentos e os comportamentos de um indivíduo são, em grande parte, determinados pelo modo que o próprio indivíduo tem de estruturar o mundo a sua volta, isto é, a visão do mundo possuída por uma pessoa, influencia a forma como pensa, sente e age (RANGE, 2011).

Conforme Beck et al. (1997a), os pensamentos agem diretamente na forma como as pessoas sentem e agem, logo, uma alternativa para melhorar um estado de humor é avaliar os pensamentos do indivíduo, no sentido de que exerçam um efeito realista sobre a forma como o mesmo se sente perante a si mesmo, ao mundo e a nosso futuro (tríade cognitiva). Em outras palavras, a forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos e internos a nós, irá determinar a forma como iremos nos sentir e, consequentemente, agir (comportamento) perante esses acontecimentos. Desta maneira, a TCC se organiza observando e descrevendo as emoções, e fazendo uma conexão entre o que se sente, e o que previamente a esses sentimentos, se pensa; desta maneira entende-se que podemos buscar fazer uma avaliação realística dos pensamentos, para que avaliando os pensamentos pode-se entender que, estes mesmos pensamentos, se distorcidos, podem gerar sentimentos desagradáveis gratuitos, neste caso os substituímos por pensamentos condizentes com a realidade. Resumidamente, “a forma de enxergarmos o mundo irá determinar a forma que nos sentimos e agimos” (GREENBERGER; PADESKY, 2017, p. 22).

Considerando o ato de aprender um comportamento, “não nos apercebemos dos pensamentos que direcionam nosso comportamento, porque nossas ações tornaram-se rotina. Entretanto, quando decidimos mudar ou aprender um novo comportamento, os pensamentos podem determinar se e como essa mudança ocorrerá” (GREENBERGER & PADESKY, 1999, p. 25). 

Nota-se que a biografia da TCC percorreu, desde muito cedo, os corredores das clínicas de psicologia e os laboratórios de desenvolvimento cognitivo-comportamentais, estes caminhos fizeram dela “a abordagem psicoterápica independente mais importante e com melhor validação científica” (KNAPP, 2008). Este estudo visa buscar nesta biografia/bibliografia possiblidades da aplicação destas técnicas no contexto educacional afim de tentar repetir, na educação, o sucesso que a TCC tem apresentados nos laboratórios e clínicas.

É sabido que nenhuma terapia tem eficácia universal. Tanto por suas técnicas quanto por cada indivíduo ter sua forma singular de se adaptar a uma forma de trabalho. Há ainda, nesse contexto, as terapias de “terceira onda” que, a partir dos anos 2000, surgiram com mais um modelo de terapia comportamental. Fazem parte dela terapias como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), Terapia Comportamental Dialética (TCD), Terapia Analítica Funcional (FAP), Terapia Comportamental Baseada em Mindfulness e Aceitação, entre outras. 

A terceira onda reformula e sintetiza gerações anteriores de terapias cognitivas e comportamentais e as levam adiante para questões e domínios previamente trabalhados por outras tradições, na esperança de melhorar tanto a compreensão do ser humano como a dos resultados dos tratamentos” (HAYES, 2004). 

As ditas terapias de terceira onda focam em aspectos como a forma como a linguagem afeta a nossa experiência, a relação terapêutica, o conceito de mindfulness ou estar no presente, o self como contexto e a aceitação. Ainda que promissoras, as técnicas psicoterápicas da Terapia Cognitiva auxiliam a identificar, avaliar, controlar e a modificar as crenças que comandam a visão de mundo e que podem ser disfuncionais e ainda se mostra mais presente na ciência, produção acadêmica e comprovação científica.

Haja visto seu malogro explicitado em números pela evasão escolar no Brasil, a forma como compreendemos nossos problemas tem um efeito em como lidamos com eles (GREENBERGER & PADESKY, 1999, P.13). Sendo que o objetivo de refletir e contribuir com a otimização dos resultados dos processos educacionais, tudo indica que a TCC pode contribuir, e muito, sendo [mais] uma fonte de recursos, conforme bem coloca RANGÉ (2001a), é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada, de prazo limitado, orientada para o problema, caracterizada pela aplicação de uma variedade de procedimentos clínicos como introspecção, insight, teste de realidade e aprendizagem visando aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções equivocadas que se supõe basearem comportamentos, sentimentos e atitudes perturbadas.

De acordo com Piaget 

O desenvolvimento do ser humano está subordinado a dois grupos de fatores: os fatores da hereditariedade e adaptação biológicas, dos quais depende a evolução do sistema nervoso e dos mecanismos psíquicos elementares, e os fatores de transmissão ou de interação sociais, que intervêm desde o berço e desempenham um papel de progressiva importância, durante todo o crescimento, na constituição dos comportamentos da vida mental. (PIAGET, 1973, p. 35)

Utiliza-se a expressão terapia cognitivo-comportamental (TCC), para se designar a junção da terapia cognitiva e da terapia comportamental. Nota-se que tanto para PIAGET (1973, p. 35) quando para BECK et al (2000, p. 42), a maneira que o indivíduo interage com o mundo determina seu comportamento. Esta interface teórica pode interagir e influenciar todo o processo de ensino aprendizagem. Haja visto a grande contribuição da Análise do Comportamento à Educação, a Psicologia Cognitiva pode trazer contribuições para a Pedagogia bem como o tem feito à outras áreas do conhecimento humano.

Além da histórica e harmoniosa convivência e coexistência da Psicologia e Pedagogia, a proposta se apresenta particularmente lúcida e viável (ainda que de pouca produção acadêmica na atualidade) por ainda mais três considerações: (I) A TCC se propõe a se um método ativo e pode dialogar com metodologias ativas de ensino; (II) ao contrário do sendo comum e/ou de algumas outras abordagens, a TCC se constitui grande parte por técnicas que não são exclusivas do uso do profissional psicólogo, facilitando sua ampla utilização nos contextos escolares por diversos profissionais e (III) pela possibilidade de aplicação em grupos, o que se assemelha ao ambiente escolar potencializando seus resultados.

Ainda sobre a convivência e coexistência supracitada das ciências, “a educação é, por conseguinte, não apenas uma formação, mas uma condição formadora necessária para o próprio desenvolvimento natural” (PIAGET, 1973 p. 39). 

2. A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL, SUA HISTÓRIA E APLICAÇÃO

2.1 HISTÓRICO DA TCC, SEU DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS EM CONTEXTOS PSIQUIÁTRICOS 

Partindo de pressupostos como de que os pensamentos alteram seus estados de humor (GREENBERGER; PADESKY, 2017), que a prática psicológica pode ter um modelo estruturado para o atendimento psicoterápico (BECK, 2013),  que os comportamentos e reações fisiológicas são frutos da reação emocional apresentada pelo indivíduo (BECK, 2006) e que as emoções podem ser mensuradas (CUNHA, 2001), a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) teve seus primórdios nos estudos de vários pesquisadores, dentre eles Aaron Beck, nos Estados Unidos (LEAHY, 2010).

Caracterizada inicialmente pelo seu modelo cognitivo, na qual esquematiza-se um modelo causal dos comportamentos, a TCC surge ampliando o conceito do então expoente Behaviorismo Radical (SKINNER, 1957, 1972a, 1972b, 1982, 2003, 2006), onde entendia-se que as contingências ambientais eram determinantes para alteração comportamental (MOREIRA; MEDEIROS, 2014), tornando-se assim o que posteriormente os historiadores chamariam de segunda onda das abordagens comportamentalistas.

Suas bases teóricas iniciais nascem já em seus primeiros estudos estruturados onde, ao perceber que pacientes depressivos tendiam a ter pensamentos distorcidos e negativos à respeito de si mesmo, dos outros e do futuro (WILSON; BRANCH, 2010). Sua popularidade é alcançada em poucas décadas impulsionada, dentre outros fatores, pelos seus resultados alcançados chegando até mesmo a ter sua eficácia equiparada aos tratamentos medicamentosos da época (LEAHY, 2010). Desde então, assim como sua popularidade, suas ramificações também aumentaram. Embora outras contribuições viriam posteriormente ampliar os estudos, desenvolver novas técnicas e até mesmo contrapor alguns pontos iniciais, a “TCC de Aaron Beck” é a maior vertente entre as terapias cognitivas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). 

Sua proposta estruturada e metodológica formatou uma prática clínica mais direcionada e intencional. Por possuir um modelo cognitivo universal, a TC pode ser amplamente utilizada em diversos contextos, conforme o próprio Aaron Beck descreve

A estrutura ou paradigma da terapia cognitivo-comportamental (TCC) possui um conjunto de princípios teóricos inter-relacionados (ou seja, a arquitetura da TCC) e um conjunto de técnicas que podem ser organizadas em estratégias clínicas incluídas em protocolos clínicos mais ou menos estruturados. (BECK, 2017)

Ao apresentar esta estrutura, familiarizando o paciente/usuário à estas técnicas, a familiarização com o modelo cognitivo passa a ser fundamental para qualquer propósito. Nesta apresentação, o terapeuta cognitivo comportamental passa a adotar uma posição mais interventiva no processo psicoterapêutico, contrariando as técnicas de outras abordagens muito populares na época como a psicanálise e as teorias existenciais fenomenológicas. Nesta posição, o terapeuta passa a ser um colaborador que, juntamente com o paciente irá atuar colaborativamente em todo o processo terapêutico num processo denominado de Empirismo Colaborativo, neste, ambos os envolvidos no processo terapêutico passam a atuar colaborativamente, “trabalhando em conjunto no empreendimento terapêutico, como uma equipe de trabalho” (KNAPP, 2004). Nesta relação, o vínculo terapêutico é tido hoje como um dos elementos fundamentais de mudança, adesão ao tratamento e ativação comportamental (BECK, 2006).

Além do modelo ateórico proposto pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (APA, 2014) e da Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde em seu capítulo específico das Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas  (OMS, 1993), a TCC possui seu modelo teórico que funciona paralelamente aos modelos supracitados. Este modelo teórico fica evidente e sistematicamente apresentado no diagrama de conceitualização cognitiva (BECK, 2013; KNAPP, 2004; KUYKEN; PADESKY; DUDLEY, 2010; RANGE, 2011) neste, o modelo de conceituação fica bem organizado e concentrado.

Ao contrário do que acredita-se, quanto mais experiente é um terapeuta, mais ele dá importância ao diagrama de conceitualização (RANGE, 2011) uma vez que esta ferramenta é a base e ao mesmo tempo o direcionador de intervenções de acordo com as informações obtidas que orientarão um psicodiagnóstico e/ou elencará as intervenções e, consequentemente, as técnicas a serem utilizadas (LEAHY, 2007). Sendo assim, cada uma das psicopatologias possui, dentro do mesmo modelo teórico, suas possíveis atuações dentro da TCC. 

A própria história da TCC se confunde com a de suas aplicações em transtornos psicológicos: Aaron Beck, até então psicanalista, apresentou a TCC utilizando seus estudos sobre o Transtornos Depressivos como campo inicial de suas atuações, os conceitos de Distorções Cognitivas e até mesmo o próprio Modelo Cognitivo datam as décadas de 60 e 70. 

Posteriormente seus estudos sobre os Transtornos de Ansiedade vieram a Escala Beck de Ansiedade (BAI) (CUNHA, 2001), o estudo da importância das imagens e a natureza idiossincrática dos pensamentos automáticos começaram a alargar a aplicação da TCC no final da década de 70. 

No início dos anos 80, Beck já possuía uma grande quantidade de colaboradores e a número de publicações aumentou substancialmente nesta década, juntamente com a quantidade de aplicações apresentadas pela TCC, nesta década os estudos sobre suicídio já houvera apresentado a desesperança como principal fator desencadeador, as Escalas Beck de Desesperança (DSI) e Ideação Suicida (BHS) começam a se tornar populares no uso da psicologia bem como a apresentação do modelo cognitivo da esquizofrenia inaugurava a aplicação da TCC aos transtornos da tornando a TCC aplicável à transtornos do Eixo II, com isso, os próprios transtornos da personalidade passaram a contar com modelos de explicação teórico cognitivo-comportamental e, consequentemente, seus modelos de atuação, esta atuação passou a ser um grande ápice da TCC uma vez que a mesma sempre se caracterizou como uma abordagem que tende a ser breve e os transtornos de personalidade possuírem características crônicas (APA, 2014; BARNHILL, 2015).

Já as atuações da TCC nas questões sobre adicção e suas ligações com a depressão e suicídio tomaram forma mais na década de 90, embora alguns estudos de Beck já abordasse o tema anos antes. 

Atualmente a TCC e suas flexibilizações tomaram proporções ainda maiores. Outras terapias que nascem sob esta vertente acabaram possuindo novas ramificações como, por exemplo, o caso da Terapia Focada nos Esquemas. Jeffrey Young, um grande teórico da TCC na década de 80 passou a tecer seus estudos aprofundados sobre os esquemas (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008) somando outras técnicas oriundas de outras abordagens e já se mostrou eficaz para determinadas psicopatologias. 

A TCC e suas aplicações crescem a cada dia. Com estas e outras características, suas técnicas têm sido amplamente utilizadas em diversos contextos. Sua possibilidade de aplicação varia desde transtornos de personalidade (BECK, 2017), transtornos do humor (CLARK; BECK, 2012) até transtornos alimentares e obesidade (BECK, 2009); sua aplicação só foi relatada com sucesso em populações adultas (WRIGHT, 2008), crianças e adolescentes (FRIEDBERG; MCCLURE, 2007) e idosos (RANGE, 2011), fazendo da TCC e todo seu aparato teórico-prático uma das mais promissoras e abrangentes abordagens psicoterápicas da atualidade.

2.2.  TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL E SUA APLICABILIDADE PARA AS DEMANDAS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEAS

Em 1971, Jean Piaget escreveu o livro “Para onde vai a Educação?” em atendimento à Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, órgão dependente da UNESCO. A ideia em geral era refletir sobre a Declaração Universal dos Direitos da Humanidade (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948), em especial no que se refere ao artigo 26 que aborda os direitos à educação e outras diretrizes do gênero.

No Brasil, presenciamos no ano de 2016 o término do prazo dado pela Emenda Constitucional nº 59, que traz consigo a diretriz de que todas as crianças, adolescentes e jovens de 4 a 17 anos estejam matriculados na escola. Porém, ainda que legalmente estabelecida e determinada, números do ano de 2014, já indicavam que esta meta não seria alcançada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o principal problema está na faixa etária de 15 a 17 anos, na qual, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE), há 1,7 milhão de jovens fora da escola, o equivalente a aproximadamente 16% dessa faixa etária.

Ainda sobre os dados do IBGE, uma vez ingressando na escola, quase todos os alunos permanecem matriculados até 14 anos de idade; desta idade em diante, a proporção de evadidos vai aumentando significativamente até chegar a 19% aos 17 anos de idade (com exceção daqueles que terminaram o Ensino Médio nessa idade).  Nota-se que a evasão escolar no Brasil se dá aproximadamente no início das Operações Formais que se inicia por volta dos 11 anos até a vida adulta, é uma fase de transição, de criar ideias e hipóteses do pensamento onde a linguagem tem um papel fundamental para se comunicar.

Ainda que meio século depois, os desafios se mostram semelhantes. “Embora seja ‘moderno’ o conteúdo ensinado, a maneira de se apresentar permanece às vezes arcaica do ponto de vista psicológico” (PIAGET, 1973, p. 19).

Com quase um quinto da população entre 15 e 17 anos em situação de evasão escolar (IBGE, 2004) e com o desemprego no país alcançando margens de 13% (IBGE 2017), nota-se que estes alunos egressos do sistema educacional se deparam com a dificuldade de enquadramento no mercado de trabalho. Sendo assim, se faz presente a necessidade da busca de tecno/método-logias em prol da otimização dos resultados dos processos educativos e a Psicologia Cognitiva Comportamental pode e se propõe a ser uma ferramenta para tal, uma vez “Mais de 40 anos após a publicação da teoria cognitiva da depressão, a TC se tornou a abordagem psicoterápica independente mais importante e com melhor validação científica”. (KNAPP, 2008). 

Piaget (1979 p. 21) invocava a reflexão “nesse campo tão especial da formação de futuros homens de ciência, e de técnicos de nível satisfatório para uma educação apropriada ao espírito experimental, coloca-se um problema que sem dúvida não é peculiar ao ensino da física, mas que já começa a preocupar certos educadores é se haverá de importa cada vez mais toda a pedagogia com base na Psicologia”.

Conforme Aaron Beck (1991, p. 46) ressaltou, “o progresso contínuo na pesquisa e prática evidenciado na história das terapias cognitivo-comportamentais pode ser interpretado como uma indicação de que o futuro do campo indubitavelmente presenciará avanços contínuos”. 

“A decisão caberá às experiências pedagógicas, metodológicas do futuro” (PIAGET, 1979 p. 21).

3.  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme os dados apresentados, nota-se que a biografia da TCC esteve durante muito tempo atrelada ao estudo dos transtornos mentais. Para além do enfrentamento das questões educacionais (como transtornos de aprendizagem), o modelo cognitivo pode ser utilizado em contextos extra clínica, vindo a colaborar com à área da Educação e seus desafios contemporâneos. Porém, mesmo com esta potencialidade, pouco se fez ciência nesta área de atuação com estas perspectivas.

Este estudo pode corroborar novos estudos e desenvolvimento de intervenções que farão do modelo cognitivo, tão conhecido no contexto de saúde mental, um subsídio para as ações educativas em enfrentamento aos seus desafios contemporâneos. 

4 REFERÊNCIAS 

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