Relato do uso das Tecnologias Vestíveis como ferramenta do processo clínico-terapêutico

Sabe-se que a relação da Análise do Comportamento com as tecnologias disponíveis em seu tempo é característico em sua forma de fazer ciência (SKINNER, 2003). A apresentação do psicoterapeuta analítico comportamental clínico também já teve sua importância referenciada na produção científica (BORGES, 2012) e a atualização de tecnologias torna-se uma ferramenta presumível para otimização dos resultados propostos pela análise do comportamento (SKINNER, 1972).

Objetivo: Partindo destes pressupostos, este relato de caso visa contemplar a possível utilização da “internet das coisas” no processo terapêutico analítico-comportamental uma vez que, pela primeira vez na história, temos recursos acessíveis para mensurar dados que antes não eram possíveis. Neste relato específico, tratamos da utilização de um Smartwatch (relógio inteligente) que possui funções de registro de sono, passos e batimentos cardíacos: dados relevantes no diagnóstico de algumas psicopatologias (APA, 2014) e para auxiliar no tratamento de doenças (OMS, 1993). Os estudos do associacionismo, por exemplo, onde o processo de aprendizagem (consequentemente da contrafação de comportamento) podem nutrir a importância do acompanhamento de dados referentes ao estilo de vida do indivíduo/paciente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Bem como o possível pareamento do início do processo terapêutico com esta mensuração tendo como reforçador o próprio uso do novo acessório (MOREIRA; MEDEIROS, 2014).

Embora atualmente há disponível no mercado diversas marcas/modelos deste aparato tecnológico, na hodierna apresentação, seu autor utilizou por dois meses o relógio Amazfit Pace, fabricado pela Xiaomi que, atualmente, é tida como a maior fabricante de werables (nomenclatura em inglês que referencia dispositivos vestíveis). O modelo não é oficialmente comercializado no Brasil mas pode ser facilmente importado ou adquirido em e-commerces populares.

No período de 1 de março até 30 de abril o utilizador utilizou o dispositivo por todos os dias retirando apenas para carregar a bateria (processo que dura cerca de 2 horas realizado a cada 5 dias). Neste tempo referido o aparelho registrou a média de 6.877 passos/dia e uma média de 1h34 de atividades físicas/dia em março e 4.790 passos/dia e 2h02 de atividades físicas/dia em abril; Média de 5h59 de sono em março e 6h49 de sono em abril; as mensurações de batimentos cardíacos ocorriam aleatoriamente e registraram números que variavam 53 de a 125 batimentos/minuto.

De acordo com a percepção do observador, os dados conferiam dia após dia com certo nível de precisão. Uma vez que na Análise do Comportamento o relato verbal não se faz suficiente para maiores conclusões científicas (SKINNER, 1957), faz-se necessários maiores estudos sobre a utilidade destas ferramentas enquanto que o objetivo deste presente relato é suscitar tais ferramentas como possíveis complemento aos processo de psicodiagnóstico, psicoterapêutico ou até mesmo como levantamento e registros de comportamentos específicos dais quais estas ferramentas se propõem mensurar.

Estes estudos reforçariam a proposta de uma comunidade científica independente da comunidade verbal (SKINNER, 1982), onde o pesquisador/terapeuta/analista do comportamento (além do próprio paciente) teria ferramentas de mensuração de comportamentos para além dos relatados verbalmente.

REFERÊNCIAS:

APA, A. P. A. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V). 5. ed. [s.l.] Artmed, 2014.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. DE L. T. Psicologias: Uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

BORGES, N. B. Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. DE. Princípios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2014.

OMS, O. M. DA S. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993.

SKINNER, B. F. Verbal Behavior. Cambridge, MA: B. F. Skinner Foundation, 1957.

SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1972.

SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix : Ed. USP, 1982.

SKINNER, B. F. skinner – ciência e comportamento humanoSão PauloMartins Fontes, 2003.