Terapia Cognitivo-comportamental funciona?

Partindo de pressupostos como de que os pensamentos alteram seus estados de humor (GREENBERGER; PADESKY, 2017), que a prática psicológica pode ter um modelo estruturado para o atendimento psicoterápico (BECK, 2013), que os comportamentos e reações fisiológicas são frutos da reação emocional apresentada pelo indivíduo (BECK, 2006) e que as emoções podem ser mensuradas (CUNHA, 2001), a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) teve seus primórdios nos estudos de vários pesquisadores, dentre eles Aaron Beck, nos Estados Unidos (LEAHY, 2010).

Caracterizada inicialmente pelo seu modelo cognitivo, na qual esquematiza-se um modelo causal dos comportamentos, a TCC surge ampliando o conceito do então expoente Behaviorismo Radical (SKINNER, 1957, 1972a, 1972b, 1982, 2003, 2006), onde entendia-se que as contingências ambientais eram determinantes para alteração comportamental (MOREIRA; MEDEIROS, 2014), tornando-se assim o que posteriormente os historiadores chamariam de segunda onda das abordagens comportamentalistas.

Suas bases teóricas iniciais nascem já em seus primeiros estudos estruturados onde, ao perceber que pacientes depressivos tendiam a ter pensamentos distorcidos e negativos à respeito de si mesmo, dos outros e do futuro (WILSON; BRANCH, 2010). Sua popularidade é alcançada em poucas décadas impulsionada, dentre outros fatores, pelos seus resultados alcançados chegando até mesmo a ter sua eficácia equiparada aos tratamentos medicamentosos da época (LEAHY, 2010). Desde então, assim como sua popularidade, suas ramificações também aumentaram. Embora outras contribuições viriam posteriormente ampliar os estudos, desenvolver novas técnicas e até mesmo contrapor alguns pontos iniciais, a “TCC de Aaron Beck” é a maior vertente entre as terapias cognitivas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

Sua proposta estruturada e metodológica formatou uma prática clínica mais direcionada e intencional. Por possuir um modelo cognitivo universal, a TC pode ser amplamente utilizada em diversos contextos, conforme o próprio Aaron Beck descreve.

A estrutura ou paradigma da terapia cognitivo-comportamental (TCC) possui um conjunto de princípios teóricos inter-relacionados (ou seja, a arquitetura da TCC) e um conjunto de técnicas que podem ser organizadas em estratégias clínicas incluídas em protocolos clínicos mais ou menos estruturados. (BECK, 2017).

Ao apresentar esta estrutura, familiarizando o paciente/usuário à estas técnicas, a familiarização com o modelo cognitivo passa a ser fundamental para qualquer propósito. Nesta apresentação, o terapeuta cognitivo comportamental passa a adotar uma posição mais interventiva no processo psicoterapêutico, contrariando as técnicas de outras abordagens muito populares na época como a psicanálise e as teorias existenciais fenomenológicas. Nesta posição, o terapeuta passa a ser um colaborador que, juntamente com o paciente irá atuar colaborativamente em todo o processo terapêutico num processo denominado de Empirismo Colaborativo, neste, ambos os envolvidos no processo terapêutico passam a atuar colaborativamente, “trabalhando em conjunto no empreendimento terapêutico, como uma equipe de trabalho” (KNAPP, 2004). Nesta relação, o vínculo terapêutico é tido hoje como um dos elementos fundamentais de mudança, adesão ao tratamento e ativação comportamental (BECK, 2006).

Com estas e outras características não apresentadas neste breve relato, é que a TCC tem sido amplamente utilizada em diversos contextos. Sua possibilidade de aplicação varia desde transtornos de personalidade (BECK, 2017), transtornos do humor (CLARK; BECK, 2012) até doenças como obesidade (BECK, 2009), com populações adultas (WRIGHT, 2008), crianças e adolescentes (FRIEDBERG; MCCLURE, 2007) e idosos (RANGE, 2011). Fazendo da TCC e todo seu aparato teórico-prático uma das mais promissoras abordagens psicoterápicas da atualidade.